A Apple recentemente anunciou o Apple Vision Pro, seus óculos de realidade mista (realidade virtual + realidade aumentada) que promete chegar ao mercado no início de 2024. Por um lado, óculos que mesclam o ambiente real com o ambiente virtual não são novidade e, atualmente, existem diversos dispositivos no mercado que oferecem funcionalidades similares, como o Meta Quest Pro. Entretanto, conhecemos bem a reputação da Apple, que raramente comete deslizes, por isso existe grande expectativa de como isso vai impactar o mercado e servir como referência para outros dispositivos similares surgirem.
Tendo sucesso em atrair cada vez mais pessoas para este universo, nos vemos em meio a um momento muito interessante para o design como um todo: como transferir nossas experiências para este novo ambiente imersivo?
Pensando além do bidimensional
Com a crescente adoção de dispositivos que proporcionam experiências imersivas, a maneira como interagimos com as interfaces está à beira de uma mudança drástica. Em vez de estarmos limitados a uma tela, agora temos todo o ambiente à nossa volta para criar nossos designs e experiências. As formas como estamos acostumados a guiar o usuário, destacar elementos e fornecer feedback se expandem para além do eixo X e Y.
Os elementos de design agora possuem profundidade e fazem parte do nosso ambiente. O que antes era apenas 2D, adquire uma nova dimensão e se mescla de maneira mais autêntica com o nosso mundo real.
E este aspecto tridimensional no Apple Vision Pro recebe um novo conceito, que acompanha o nome de seu design system: o Spatial Design (design espacial).
Vision Pro e seu Spatial Design
Um dos aspectos que tornam o anúncio do Apple Vision Pro tão importante não reside apenas no dispositivo em si e em suas características técnicas, mas principalmente no que o acompanha: um novo sistema operacional com sua própria linguagem de design. Como no anúncio do primeiro iPhone, as possibilidades introduzidas por este aparelho estavam criando a base para a construção de apps e experiências que temos hoje. O grande sucesso do iPhone e de outros smartphones, que triunfaram até se tornarem os objetos essenciais que temos hoje, deve-se aos aplicativos desenvolvidos para eles, que se apoiam na parte técnica e nas possibilidades de seu design, sendo atualmente o que mais utilizamos em nossos smartphones.
Com o Vision Pro, vemos o mesmo fenômeno acontecer. Esta é a base de design, o início pelo qual designers e desenvolvedores criarão aplicativos cada vez melhores e que transformarão a maneira como interagimos atualmente.
O Spatial Design é um ponto de partida muito valioso e a Apple, em seu site para designers e desenvolvedores, possui uma série de vídeos dedicados à este sistema. Vamos aqui cobrir por aqui alguns de nossos destaques, principalmente relacionado à seus princípios. E caso queiram que a gente se aprofunde mais neste sistema, faremos um conteúdo mais extenso e exclusivo depois 👍
A volta do formato horizontal
Com o design espacial, à medida que nos imergimos neste ambiente, interagimos com este mundo da mesma forma que interagimos com o mundo real. Assim, o formato horizontal de janelas e conteúdos acaba sendo o preferido, já que acompanha a anatomia de nossos olhos e nossa capacidade de visão, que é naturalmente mais horizontal do que vertical.
Nos smartphones, muitas das nossas principais interações são na vertical devido ao formato da tela e à facilidade ergonômica de segurarmos um celular verticalmente. No entanto, neste novo ambiente, retornaremos às origens, e os designs mais horizontais (como sempre tivemos na web) terão preferência.
Além disso, as informações mais importantes deverão estar mais centralizadas na tela. Essas considerações são feitas para exigir o mínimo esforço do usuário e evitar que ele tenha que forçar os olhos com movimentos amplos e constantes.
Glass Design e Janelas
O design com aspecto de “vidro” é o que definirá este novo universo, pelo menos nos primeiros anos. O design em vidro possibilita uma maior integração entre as janelas dos aplicativos, seu conteúdo e elementos de interface, com o ambiente real do usuário.
O uso de janelas (similar ao que temos nos computadores) se tornará bastante presente juntamente com o design em vidro, permitindo que o usuário as mova pelo seu ambiente e as agrupe para melhorar sua integração.
Dimensionalidade
Neste ambiente, a profundidade é de grande importância. Ela também ajuda a definir a hierarquia entre os objetos. Esse aspecto, aliado a luzes e sombras, é fundamental para esta experiência.
Imersão
Um grande ponto do Spatial Design é como a experiência se expande para diferentes níveis de imersão. É possível ter três níveis de imersão, que vão desde a observação de uma simples janela, passando por ela se expandindo e preenchendo o ambiente ao seu redor, até ela ocupar todo o seu ambiente. Ao mesmo tempo, com a possibilidade de elementos interagirem no espaço físico, é importante ter flexibilidade ao projetar interfaces para este sistema, pois cada ambiente é diferente do outro.
Autenticidade
Os princípios do Spatial Design reforçam que, nesta plataforma, os melhores apps são aqueles que proporcionam uma experiência rica e imersiva, que se utilizam do ambiente ao redor das pessoas. Ao criar um produto para este ambiente imersivo, a Apple recomenda focar inicialmente em um único aspecto chave do seu app ou jogo que possa ser espacial ou imersivo. Desta maneira, os aplicativos existentes conseguem criar uma experiência única e memorável a partir de um conteúdo que já existe em outros formatos (como em smartphones ou na web).
Motion no Apple Vision Pro
É claro que não poderíamos deixar de abordar o motion nesse contexto. Aqui, o uso do motion na criação de experiências memoráveis caminha lado a lado com a acessibilidade. Sabemos que muitas pessoas ainda podem se sentir desconfortáveis em um ambiente 100% imersivo de realidade virtual. Como a proposta da Apple é mesclar nossa realidade física com a virtual, esses pontos são essenciais para consideração, especialmente com a proposta de usar o Vision Pro para trabalho e não apenas lazer.
Dentro do Spatial Design, a Apple reforça a ideia de “Make Things Alive”:
Animações sutis podem transformar experiências estáticas em algo vivo e dinâmico.
Destaque para “animações sutis”. Um dos pontos que eles reforçam é evitar movimentos grandes e rápidos, pois podem desorientar as pessoas. Em muitos casos, transições entre ambientes (do 100% imersivo para uma experiência de realidade mista) podem ser suavizadas por meio de efeitos de desvanecimento (fade in e out), que acabam sendo uma das soluções mais recomendadas.
Oportunidades
Com a entrada da Apple neste mercado, prevemos que o Vision Pro se tornará um benchmark para outras empresas que pretendem desenvolver dispositivos semelhantes. Apenas o tempo dirá, mas estamos otimistas de que, em pouco tempo, este será apenas mais um meio pelo qual interagiremos com interfaces no nosso dia a dia. E o que antes dizíamos sobre “onde existe uma tela existe oportunidade para UX Motion”, em breve poderemos afirmar que o nosso ambiente proporcionará essa oportunidade.
O mais importante é compreender que os princípios de UX Motion aplicados atualmente a interfaces planas se traduzem perfeitamente neste novo ambiente.
Estamos entusiasmados em acompanhar a evolução desses dispositivos e de seus designs, e compartilharemos todas as novidades aqui, no UX Motion Design. Acompanhe-nos nesta jornada para criar experiências em novas dimensões!
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